4 de jun. de 2007

O que pode acontecer quando o líder usa a "força" não acompanhada de "caráter"???


Conheci certa vez uma empresa em que a diretoria estava muito feliz com o gerente do departamento que trazia os melhores resultados. Passado algum tempo, ao visitar a empresa, fiquei sabendo que ele havia sido demitido. Fiquei surpreso, mas depois entendi, pois o motivo não tinha a ver com os resultados financeiros. Nisso ele era bom. Já sua conduta ética...
Houve um choque com os valores da organização. E para as empresas já não interessa mais apenas "resultado", e sim "resultado sustentável". É uma questão de sobrevivência de longo prazo.
Sustentabilidade significa que o sucesso de hoje não compromete o sucesso de amanhã. Atitudes antiéticas vão contra esse princípio. Para entender a posição dos líderes diante dessa realidade, podemos olhar o que acontece com alguns animais.
Você já reparou que um cachorrinho quando leva uma bronca do dono costuma deitar de barriga para cima, o que gera uma imediata simpatia pelo danadinho? Ele faz isso porque reconhece a força de seu "oponente" e simplesmente não quer brigar, pede paz, se rende. Pois é, essa é mais uma herança do ancestral do cãozinho -- o lobo.
Quando dois lobos disputam a liderança de uma matilha partem para o confronto físico até que um deles, derrotado, deita de costas no chão. É aí que reside a beleza dessa história: o outro lobo interrompe o ataque, deixando o vencido em paz, pois a intenção não é ferir ou matar o oponente, mas, apenas, vencê-lo na disputa pelo poder.
Mas, veja só, se o lobo vencedor continuar atacando o vencido, ele será rechaçado pelos demais, podendo ser atacado pela matilha que iria liderar, pois a matilha reconhece no vencido, um a mais na luta diária pela sobrevivência . Sem ter compaixão pelo vencido, ele demonstra fraqueza de caráter. Tem de mostrar respeito pelo vencido. Uau, ponto para os lobos! E somos nós os seres racionais?
Entre os humanos, demonstrações de caráter muitas vezes não são cobradas de nossos l íderes, desde que eles entreguem resultados para as empresas. Se os números estiverem bons é porque a liderança está funcionando -- dizem por aí. Será que este raciocínio não está "errado" ? Mesmo aqueles mais beneficiados com os resultados não se sentem totalmente confortáveis quando os resultados foram conquistados em detrimento da ética e da moral. Cuidado. Ultimamente, "resultado" é diferente de "resultado a qualquer custo", pois este não garante o "resultado sustentável".
Isso é importante porque a cada membro da matilha ficará desconfiado, cedo ou tarde, vão se amotinar e negar a autoridade do tal líder sem caráter. Aí os resultados começarão a minguar.
Um líder de verdade carrega consigo um certo espírito de nobreza, capaz de angariar \ conquistar o respeito até dos adversários.
Assim constrói a tal sustentabilidade. Se não for deste modo, vamos acabar dando razão ao empirista Thomas Hobbes, que disse que neste mundo estamos todos contra todos e que o verdadeiro homem, na verdade é o lobo homem. Não precisa ser assim e, por ironia, podemos aprender com o próprio lobo!

Fonte: Eugenio Mussak é professor e consultor. E-mail: eugenio@ssdi.com.br

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